quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O poder do toque de Deus - Max Lucado

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Paz a todos, meus irmãos!
Esse post não é meu, é do Max. É, você o conhece. Nosso amigo Max Lucado. hehe
É um trecho do seu livro Simplesmente como Jesus que fala sobre o leproso. Na verdade a sua imaginação é que fala. Se você quer ir além naquele episódio de Mateus 8, tire um tempinho e leia. Não preciso falar muito. Acompanhe o Max e vai entender porque resolvi compartilhar.

Boa viagem e vão com Deus!

...

Quando Jesus desceu do monte, muita gente o seguia. Então se achegou um leproso e se prostrou diante dEle, dizendo: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo". Jesus estendeu a mão e o tocou, dizendo: "Quero, sê limpo". E no mesmo instante sua lepra desapareceu. Então Jesus lhe disse: "Olha, não o digas a alguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho" (Mateus 8:1-4, ACF).
Marcos e Lucas escolheram contar a mesma história, porém com as devidas desculpas para os três escritores, devo dizer que nenhum deles diz o suficiente. Sabemos da doença do homem, e de sua decisão, porém, e o resto? Ficamos com perguntas. Os escritores não dão o nome, nem a história, nem descrição alguma.

PROSCRITO AO MÁXIMO

Algumas vezes sou vencido pela minha curiosidade, e começo a fazer perguntas em voz alta. É isso o que vou fazer aqui: perguntar-me em voz alta sobre o homem que sentiu o toque compassivo de Jesus. Aparece uma vez, faz uma petição e recebe um toque. Mas esse único toque mudou sua vida para sempre. Eu me pergunto se a sua história poderia ser algo assim:

"Por cinco anos ninguém me tocou. Ninguém. Nem uma única pessoa. Nem sequer minha esposa, nem minha filha, nem meus amigos. Ninguém me tocava. Olhavam para mim. Falavam comigo. Sentia o carinho em suas vozes. Via preocupação em seus olhos. Mas nunca senti seu toque. Não havia. Nem uma única vez. Ninguém me tocou.
O que é comum entre vocês, eu cobiçava. Apertos de mãos. Cálidos abraços. Uma toque no ombro para chamar minha atenção. Um beijo nos lábios para roubar um coração. Tais momentos foram tirados do meu mundo. Ninguém me tocou. Ninguém esbarrou em mim. O que eu não teria dado para que alguém esbarrasse em mim, que me apertassem numa multidão, que meus ombros encostassem nos de outros. Mas por cinco anos nada disso aconteceu. Como poderia? Nem ao menos me era permitido andar pelas ruas. Até os rabinos mantinham-se à distância. Não me era permitido freqüentar a sinagoga. Nem sequer me recebiam em minha própria casa.
Eu era um intocável. Era leproso. Ninguém me tocava. Até hoje."

A história desse homem me chama a atenção porque nos tempos do Novo Testamento a lepra era a doença mais temida. A enfermidade deixava o corpo como uma massa de úlceras e putrefação. Os dedos encolhiam e se retorciam. Pedaços de pele perdiam a cor e fediam. Certos tipos de lepra matam os terminais nervosos, e isso produz a perda de dedos, e até de pés e mãos. A lepra era morte por centímetros.
As conseqüências sociais eram mais severas que as físicas. Considerada contagiosa, o leproso era obrigado a guardar quarentena, proscrito a uma colônia de leprosos.
Nas Escrituras o leproso é símbolo de máxima proscrição: infectado por uma condição que não procurou, rejeitado por todos os que o conheciam, evitado por pessoas que não conhecia, condenado a um futuro que não podia suportar. Na memória de cada relegado deve ter havido um dia em que se viu obrigado a enfrentar a verdade: a vida nunca mais seria a mesma.

Um ano, durante a colheita, percebi que minha mão não podia sustentar a foice com a mesma força. Os dedos estavam adormecidos. Primeiro foi um dedo, e depois, outro. Em pouco tempo podia empunhar a foice, mas nem a sentia. Ao terminar a temporada não sentia nada com as mãos. É como se a mão que empunhava o cabo pertencesse a outra pessoa; tinha perdido toda sensibilidade. Não disse nada a minha esposa, mas ela suspeitava de algo. Como poderia não suspeitar? Eu levava minha mão junto ao corpo como ave ferida.
Uma tarde enfiei a mão numa bacia de água para lavar o rosto. A água ficou vermelha. Um dedo sangrava, com hemorragia. Nem sabia que me havia machucado. Como me cortei? Com alguma faca? Será que encostei a mão em algum objeto afiado? Deve ter sido, porém eu nada tinha sentido.
— Está também na sua roupa — disse minha esposa com voz fraca. Ela estava atrás de mim. Antes de olhar para ela, fitei as manchas vermelhas em minhas vestes. Por longo tempo fiquei sobre a bacia, contemplando minha mão. Algo me dizia que minha vida tinha sido alterada para sempre.
— Você quer que eu o acompanhe para ver o sacerdote? — me perguntou.
— Não — disse eu com um suspiro —. Irei sozinho.
Me virei e vi seus olhos úmidos. Junto dela estava nossa filinha de três anos. Abaixando-me, olhei diretamente em seus olhos e acariciei sua face, sem dizer nada. Que poderia dizer? Endireitei-me e olhei para minha esposa de novo. Ela me tocou no ombro, e com minha mão boa toquei a dela. Seria nosso toque final.
Cinco anos se passaram, e desde então mais ninguém tinha me tocado, até agora.
O sacerdote não me tocou. Olhou para minha mão, que agora levo envolvida num pano. Olhou para meu rosto, agora obscurecido pela tristeza. Nunca o culpei pelo que me disse. Simplesmente estava agindo segundo tinha sido instruído. Cobriu sua boca e estendeu sua mão, com a palma para fora. "Você é imundo", disse. Com este pronunciamento, perdi minha família, meus bens, meu futuro, meus amigos.
Minha esposa veio me encontrar nas portas da cidade, com uma sacola de roupa, pão e moedas. Não disse nada. Alguns amigos tinham-se reunido. O que vi em seus olhos foi precursor do que tenho visto em todo olhar desde então: compaixão cheia de terror. Enquanto eu saía, eles se afastavam. Seu horror por minha enfermidade era maior que sua preocupação pelo meu coração; e assim eles, igual a todos desde então, recuaram.

A proscrição de um leproso parece rigorosa, desnecessária. Contudo, o Antigo Oriente não foi a única cultura que isolou seus enfermos. Nós talvez não construamos colônias nem tapemos a boca diante de sua presença, mas certamente construímos paredes e afastamos os olhos. A pessoa não precisa ser leprosa para sentir-se em quarentena.
Uma de minhas lembranças mais tristes tem a ver com meu amigo da quarta série, Jerry [1]. Ele e mais uns 6 de nós formávamos um grupo inseparável e sempre presente no pátio. Um dia liguei para sua casa para ver se podia sair para brincar. Uma voz maldizente, bêbada, atendeu o telefone, e me disse que Jerry não poderia sair para brincar esse dia nem nunca. Contei a meus amigos o acontecido. Um deles me explicou que o pai de Jerry era alcoólatra. Não sabia bem o que essa palavra queria dizer, mas aprendi muito rápido. Jerry, o que jogava na segunda base; Jerry, o da bicicleta vermelha; Jerry, meu amigo da esquina, era agora "Jerry, o filho do bêbado". Os rapazes podem ser cruéis, e por alguma razão fomos muito cruéis com Jerry. Estava infectado. Como o leproso, sofreu por uma condição que ele não criou. Como o leproso, o proscrevemos de nosso convívio.
O divorciado conhece estes sentimentos. Assim como o aleijado. O desempregado os tem experimentado, assim como os que tem pouca cultura. Alguns se retraem diante das mães solteiras. Mantemos distância dos deprimidos e dos enfermos incuráveis. Temos bairros para imigrantes, asilos para idosos, escolas para retardados, centros para adictos e prisões para os criminosos.
Nós, o resto, simplesmente tratamos de afastar-nos de tudo isso. Só Deus sabe quantos Jerry estão no exílio voluntário: indivíduos que vivem vidas caladas, solitárias, infectadas pelos seus temores de rejeição e suas lembranças da última vez em que tentaram. Preferem não serem tocados ao risco de serem machucados.

Ah, quanta repulsa sentiam os que me viam! Cinco anos de lepra me deixaram as mãos retorcidas. Faltam-me várias falanges em vários dedos, assim como pedaços de minhas orelhas e do nariz. Ao ver-me, os pais pegam seus filhos. As mães cobrem seus rostos. As crianças me apontam com o dedo e ficam olhando para mim.
Os trapos não podem esconder as chagas de meu corpo. Tampouco o pano com que envolvo meu rosto pode ocultar a ira de meus olhos. Nem sequer tento escondê-la. Quantas noites não levantei meu punho crispado contra o céu silencioso? "Que fiz para merecer isto?" Porém nunca recebi resposta.
Alguns pensam que pequei. Alguns pensam que meus pais pecaram. Não sei. Tudo quanto sei é que me fartei de tudo: de dormir na colônia, de perceber o fedor. Odiava o maldito sino que tinha que levar pendurado no pescoço para advertir às pessoas de minha presença. Como se precisasse dele. Bastava um olhar e os anúncios começavam: "Imundo! Imundo! Imundo!"
Algumas semanas atrás me atrevi a andar pelo caminho da aldeia. Não tinha nenhuma intenção de entrar nela. O céu sabe que tudo o que eu queria era dar uma olhada nos meus campos. Dar uma olhada em minha casa e ver, por alguma casualidade, o rosto de minha esposa. Não a vi; mas vi algumas crianças brincando num campo. Me escondi atrás de uma árvore e as observei vaguear e sair correndo. Suas faces estavam tão felizes e seu riso era tão contagioso que por um momento, apenas por um momento, não era mais leproso. Era de novo agricultor. Era pai. Era um homem.

Com a infusão da felicidade deles sai de trás da árvore, endireitei minhas costas, respirei profundamente... e então me viram. Antes que pudesse retirar-me, me viram. Gritaram. Fugiram correndo. Uma, porém, ficou. Uma se deteve e olhou para mim. Não sei, não poderia dizer com certeza, mas acho, na verdade acho que era minha filha. Não sei; não poderia garanti-lo; mas penso que ela buscava seu pai.

Esse olhar me fez dar o passo que dei hoje. Certamente foi temerário. Com certeza foi um risco. Mas, o que tinha a perder?
Ele chama a si mesmo de Filho de Deus. Ou ele ouviria meu clamor e me mataria, ou aceitaria minha demanda e me curaria. Foi o que pensei. Me aproximei dEle, desafiando-o. Não foi a fé que me empurrou, mas sim uma ira desesperada. Deus tinha feito uma calamidade no meu corpo, e devia restaurá-lo ou então, acabá-lo.
Mas então o vi, e quando o vi, mudei. Lembre que sou agricultor, e não poeta, assim não consigo achar as palavras para descrever o que vi. Tudo quanto posso dizer é que as manhãs da Judéia algumas vezes são tão frescas e o nascer do sol tão glorioso que olhá-lo é esquecer do calor do dia anterior e das feridas do passado. Quando olhei para seu rosto vi uma manhã da Judéia.
Antes que Ele falasse, soube que se interessava. De alguma forma soube que detestava esta doença tanto, se não mais, que eu. Minha ira se converteu em confiança, e minha cólera em esperança.
Oculto por trás de uma pedra, o vi descer da colina. Multidões o seguiam. Esperei até que estivesse a poucos passos de onde eu estava, e então me apresentei.
— Mestre!
Parou e olhou para mim, assim como dezenas de outros. Uma torrente de temor percorreu a multidão. Os braços voaram para cobrir as caras. As crianças se comprimiram detrás de seus pais. "Imundo!" gritou alguém. De novo, não culpo eles. Eu era uma massa malfeita de morte. Porém quase não os ouvia. Quase não os via. Tinha visto mil vezes seu pânico. Contudo, a compaixão dEle quase nunca a havia contemplado. Todo mundo retrocedeu, exceto Ele. Então avançou para mim. Para mim.
Cinco anos atrás minha esposa tinha se aproximado de mim. Ela foi a última a fazê-lo. Agora Ele o fazia. Não me mexi. Simplesmente lhe disse:
— Senhor, tu podes limpar-me, se quiseres.
Se Ele tivesse me curado com uma palavra, teria ficado mais que encantado. Se me tivesse sarado com uma oração, teria me regozijado. Porém não ficou satisfeito com falar-me. Até então ninguém tinha me tocado. Até hoje.
— Quero — suas palavras foram suaves como seu toque —. Sê limpo.
A energia encheu meu corpo como a água num campo arado. Num instante, num momento, senti o calor onde tinha havido insensibilidade. Senti força onde tinha havido atrofia. Minhas costas se endireitaram, e minha cabeça se levantou. Onde eu tinha estado com o olho no nível de sua cintura, agora estava fitando-o ao nível de seu rosto. Seu rosto sorridente.
Tomou minhas faces com suas mãos, e me aproximou tanto que pude sentir o calor de seu hálito e ver a umidade de seus olhos.
— Não fales com ninguém. Mas vai e mostra-te ao sacerdote, e oferece a oferta que Moisés ordenou para os que são sarados. Isso mostrará às pessoas o que tenho feito.
É isso é o que estou fazendo. Vou mostrar-me ao sacerdote e abraçá-lo. Vou mostrar-me a minha esposa, e abraçá-la. Levantarei minha filha, e a abraçarei. Nunca esquecerei o que se atreveu a tocar-me. Poderia ter-me sarado com uma palavra; mas desejava fazer mais que me sarar. Desejava dar-me honra, validar-me. Imagina: indigno de que me toque o homem, e contudo digno do toque de Deus.

O PODER DO TOQUE DIVINO

O toque não curou a enfermidade, como você sabe. Mateus é cuidadoso ao mencionar que foi o pronunciamento de Cristo e não seu toque que curou a enfermidade. "E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E logo ficou purificado da lepra" (Mt 8:3, ACF).
A infecção desapareceu pela palavra de Jesus.
A solidão, porém, foi tratada pelo toque de Jesus.
Ah, o poder de um toque divino. Você ainda não o conheceu? O médico que o tratou, ou a professora que secou suas lágrimas? Houve uma mão segurando a sua no funeral? Outra em seu ombro durante a prova? Um aperto de mãos dando-lhe as boas-vindas a seu novo trabalho? Uma oração pastoral por cura? Não conhecemos o poder de um toque divino?
Acaso não podemos oferecer o mesmo?"

...

NEle,
Paulo Vitor.
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